quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Estrela de cinco pontas


Certas fotografias são como música. Não se criam, não se fazem, elas simplesmente nos vem. Registra-las com uma câmera, quando possível, é como uma missão. Se não fazemos, guardamos solitariamente na memória aquele recorte do tempo e esta visão irá conosco em nossa finitude.
Esta imagem me surgiu nos primeiros raios de sol,  pela manhã, abrigada numa flor pequena - se pensarmos numa escala humana.
Mais que o retrato de uma flor, esta imagem é por si só a síntese da vida neste planeta. Um pequeno inseto no interior do orgão reprodutor de um vegetal. Nele encontra seu alimento e se impregna dele. Na próxima visita, neste trabalho de formiguinha,  deixará o embrião de uma nova vida. Vida feita da luz que inunda este salão colorido, decorado com uma estrela de cinco pontas

terça-feira, 29 de maio de 2018

O som quente de um circuito elétrico







Nada mais atual que o som moderno de uma guitarra antiga.  Se por um lado o tempo lhes deu marcas, estas nada mais são que atestados, certificações de que bons momentos foram vividos. Os instrumentos antigos são plurais em beleza: lindos de se ver, doces de se ouvir. Testemunhas de uma época próspera em bons materiais e artífices.  Em seus corpos, madeira e metais se complementam em vibrações que impulsos elétricos traduzem em som. Um som encapsulado por válvulas que não se usam mais. Curiosidades obsoletas esquecidas em forma de ruídos radiofônicos, ondas dispersas no espaço distante. Paradoxalmente, vivas em calor, dão vida a cada nota e obedecem, para a minha alegria, ao comando "on" de um prosaico botão de bakelite

quinta-feira, 11 de maio de 2017

O Mar é o mesmo sob o céu







"E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português."       
Fernando Pessoa
O mar, que antes levava para Lisboa o pau vermelho e o metal dourado, hoje traz do oriente brilhos eletronicamente fugazes, montados por mãos amarelas. As distâncias que os portugueses venciam em suas naus como quem dobra velhos mapas são as mesmas. São as mesmas as amarras e nós. As nuvens que passeiam por imensidões de céu são as mesmas. O mar, ainda jovial, faz ondulações e brinca com o sol de fazer pinturas abstratas no casco das embarcações. No cais, submersos em imensas estruturas, minúsuculos homens trabalham.  O mar é o mesmo sob o céu. Outros são os homens e suas cores. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Dona Benedita de Santo Antonio do Rio Grande








                                                       
Dona Benedita é riquíssima. Sua casa fica de costas pra pedra negra onde la em cima ainda tem onça. Sua propriedade, a mais bonita do lugar, tem um aparato de segurança e junto dele um vigilante uniformizado de amarelo preto e vermelho. O visitante que consegue transpor tais obstáculos é convidado para entrar e tomar um café. Pergunto se o bolo gostoso é de fubá, ela diz que na receita leva um cadiquinho.
Como todos naquele patrimônio, Dona Dita é abençoada por Santo Antonio que todos os dias brinca de soprar o dente de leão dando leveza `a vida; ilumina o alpiste ainda em flor;  e colore as margaridas do mato para que os pequenos que delas vivem nao se desorientem 

sábado, 5 de novembro de 2016

Sobre vida e bicicletas








A resposta que vale um milhão de dólares é:  Como será a vida após a morte?

Uma bicicleta abandonada no tempo, `a sorte de uma evolução rápida ou mais lenta da corrosão. Em seus 54 anos de idade e trabalho serviu de passeio, lazer e labuta. Finalmente abandonada. Seu próximo destino seria um forno, e,  metamorfoseando-se talvez em vergalhão ou prego, teria enfim outras serventias.  Mas, como diz a piada, a vida é uma caixinha de surpresas.
Um objeto antigo pode ser restaurado mantendo radicalmente a originalidade. Outra possibilidade contrastante é se preservar o que tem ainda de fábrica como patrimônio,  porém, acrescentando-lhe itens inusitados. A segunda opção tem compromisso apenas com a beleza, uma releitura estética.
No desdobramento da vida a bicicleta em sua espartana existência deixa de ser um objeto funcional e se torna quase uma abstração conceitual.
De Lorena Bicicletas


sábado, 4 de junho de 2016

Imagens que passam e ficam








Alguns trabalhos nos são muito caros. Outros não tem preço. Seja pela oportunidade, pelo significado pelo estado de espírito ou o carinho que os motivou.
Estas coberturas fotográficas reúnem uma quantidade significativa de imagens. Enquadramentos emolduram fatos, pessoas, grupos e contam a estória do evento retratado.
No bojo desta seleção algumas imagens  são cuidadosamente escolhidas levando em conta critérios relevantes. no meio delas, algumas preciosidades permeiam e esquecidas.  Ficam apenas como um registro digital, perdidas no anonimato binário de um dispositivo de armazenagem.
O olhar de absoluta confiança da criança brilha por mirar o rosto do pai;
o azulejo aos poucos vira musgo;
o ladrilho hidráulico, calado, lembra mas não revela quantos por ali passaram;
a cruz no túmulo de um negro escravizado suporta tantos e tantos pedidos;
flores velhas transmutam suas belezas;
com tanta estrada rodada, um caminhão acredita que os sonhos não envelhecem;
a fechadura que tudo tranca faz concessão `a luz que vem de fora.
Enquanto isso, atento apenas ao fato de estarem de mãos dadas um casal eterniza o momento e caminha

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O maior poema da lingua portuquesa






Um dia desses, mais um dia daqueles bonitos. Num Aterro do Flamengo nem muito quente nem frio, encontro um amigo poeta. Destes que tem poesia também no nome, Sergio Gramático. Neste encontro tendo a pedra mais fotogênica da cidade ao fundo, meu bonito amigo Sergio convidou os amigos para testemunharem seu feito. Ousou desbancar Luiz de Camões e numa inspiração escreveu 1km e meio de poesia  e em redondilha maior contou em 9700 versos a "Historia da Cidade Maravilhosa".
Eu estava lá e compartilhei com os amigos, que lhe tem tão bem, o momento que o sonho acontece. Quando os velhos param para olhar e as crianças buscam pedras e botam peso pro vento não rasgar aquela historia comprida.  Para mostrar a gratidão por terem sido lembrados, naquele momento os que ali estavam retribuiram em forma de versos improvisadamente decorados uma homenagem em alegria recitada. O dia findou feliz